[Especial do Mês] Machado de Assis

10 comentário(s)

Especial do mês: Machado de Assis

Por Daniela de Souto Inocêncio

        
Desde os meus primeiros passinhos literários, ouvi seu nome e observei seus livros. Contudo, demorei a lê-los. “São grandes clássicos”, me diziam, “você não poderá ler outra coisa depois que conhecer a beleza de suas palavras”. Naturalmente, li inúmeras obras de outros tantos autores que não ele, entretanto, certamente me encantei e deslumbrei-me com suas personagens, especialmente as femininas. Apaixonei-me por sua linguagem, mesmo entre tantas palavras consideravelmente difíceis ou pouco usuais. E, justamente por ser um clássico, tive receio de abrir seus livros e não conseguir entender a intensidade daquilo que lia e reconhecer a grandeza desse forte sobrenome, Machado de Assis

Infelizmente, sei que muitos leitores contemporâneos torcem o nariz para o grande Joaquim Maria – sim, esse é o seu nome – mas, aqueles que puderam verdadeiramente lhe dar uma chance, se entregaram de corpo e alma. São livros de crítica, é fato. Crítica à sociedade, às relações interpessoais, à mulher e ao homem de seu século. São personagens riquíssimas do ponto de vista da complexidade... Eles falham, enganam-se, corrompem-se, são humanos, de fato. Quem ainda não se deixou levar pelos caprichos de Capitu e pelos ciúmes doentios de Bentinho, não conhece a força daqueles olhos verdes de ressaca. Quem não quis saber da vida de um homem morto e desbocado como Brás Cubas, não conhece o ser humano sem medo dos julgamentos... É fato que a linguagem não é tão direta quanto a nossa, mas nem tão inacessível quanto pintam... São trechos belíssimos. 

Esse homem magnífico, um dos maiores autores brasileiros, não é considerado como tal levianamente. Imaginem um rapaz, em um Rio de Janeiro de meados do século XIX, filho de família de poucos recursos, de descendência negra, em um país que tentava libertar-se das amarras da escravatura. Alguém que jamais saíra do país para frequentar uma universidade, mas que brilhantemente escreveu quase todos os tipos de gêneros literários. Além das obras já mencionadas e tantas outras que escreveu, Machado de Assis também fora poeta, jornalista, cronista e até dramaturgo. 

O bruxo do Cosme Velho, como é conhecido Machado por morar em um bairro de nome Cosme Velho, sempre fora uma pessoa reservada, e, exatamente por esse motivo, muitos estudiosos do autor tentam encontrar em seus livros rastros do que poderiam ser trechos autobiográficos. Entretanto, podemos conhecer um pouquinho a seu respeito nas lacunas que nos forneceu.

Nomeado o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, em 1897, Machado de Assis devotou-se a este cargo tanto quanto se dedicaria à sua esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais, para quem dedicou seu último soneto. O casal não teve filhos, mas notava-se o intenso amor dos dois – especialmente porque, pelos quatro anos que sobreviveu sem a esposa, Machado visitaria seu túmulo todos os domingos. Em uma carta a Joaquim Nabuco, Machado de Assis assim descreve sua tristeza: “foi-se a melhor parte de minha vida, e aqui estou só no mundo”.

Homem culto em demasiado, Joaquim M. Machado de Assis transpôs em sua literatura a influência que sofrera da literatura francesa, portuguesa, inglesa e clássica, como indica os 1.400 livros de sua biblioteca pessoal. Mesmo a bíblia parecia exercer grande influência em suas obras, como em “Esaú e Jacó” – como o próprio nome insinua - e mesmo em Dom Casmurro, com referências aos santos e ao protagonista que vai para o seminário. Esta obra também tem lá suas influências shakespearianas, o ciúme de Bentinho se assemelha muito ao de Otelo, por exemplo. E, falando ainda da obra célebre de Machado, se esses motivos não são suficientes para passar já em uma livraria e comprar o primeiro livro dele que encontrar pela frente, eu lhes lanço o seguinte desafio: leiam Dom Casmurro, entreguem-se de verdade e, depois, se puderem, me respondam a única pergunta da literatura brasileira sem resposta há mais de cem anos: Capitu traiu ou não traiu?


Machado de Assis. Célebre autor do Realismo no Brasil. Nasceu em 21 de junho de 1839 e faleceu em 29 de setembro de 1908.

Principais Obras Literárias: 

- Contos Fluminenses (1870)
- Ressureição (1872)
- A Mão e a Luva (1872)
- Helena (1876)
- Iaiá Garcia (1878)
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
- Quincas Borba (1891)
- Papéis Avulsos (1882)
- Dom Casmurro (1899)
- Esaú e Jacó (1904)
- Memorial de Aires (1908)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

PACHECO, João. In Realismo: 1870-1900(o). Capítulo I. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1971. pp. 7-11.



 


Daniela de Souto Inocêncio, tem 23 anos, formada em Letras – Português, mora em Brasília. Deslumbrada por livros e música, fez dos primeiros sua profissão e primeiro amor e, da segunda, sua paixão.

10 comentários:

Ju disse...

Oi meninas, parabéns pela coluna. Eu sou totalmente adepta aos clássicos, mas devo confessar que ainda não tive oportunidade de ler um livro seu. Não me pergunte o porquê, não faço idéia.
Mesmo assim, esse escritor tem todo o meu respeito, já que não é fácil ser o que era e o que se tornou em uma sociedade como a nossa, ainda mais em sua época.

Beijos

Cynthia. disse...

Não sei se já tinha visto esse design novo, faz tempo que não passo por aqui. Mas está lindo :)

Sobre Machado de Assis, fiquei admirada com a iniciativa. Muitos blogs procuram mostrar um pouco dos clássicos, nem que seja apenas na divulgação, mas poucos realmente fazem isso por reconhecerem e, acima de tudo, ENTENDEREM a sua importância. Sempre nos deparamos, também, com lançamentos de livros recentes e temas infanto-juvenis. Claro que os lançamentos e os livros que estão surgindo agora são de extrema importância para o incentivo à leitura, mas, até hoje, nada se compara com a genialidade de Machado de Assis. Mesmo com as palavras robustas e o tradicionalismo da língua, o forte está, justamente, nas entrelinhas e na forma como o autor descreve as situações cotidianas e a humanidade das pessoas. Humanidade no próprio sentido da palavra, não apenas a compaixão, mas também os ciúmes, a inveja, a ganância... Todas as críticas à sociedade feitas por Machado de Assis se aplicam até hoje. Isso, sim, é o que torna uma obra clássica e faz de um autor cânone: a atualidade, independente da época, da temática abordada. E nisso, Joaquim é especialista.

Parabéns pela iniciativa e divulgação de um autor tão importante para o nosso Brasil e, principalmente, para a nossa Literatura. :)

Obs: Daniela Inocêncio não me é um nome estranho, hehe, acho que já a vi por aí nos corredores da UnB.


Abraços!
http://ninanoespelho.blogspot.com

Tullia Maria disse...

Adorei a postagem!! Dani, você escreve muuuuuito bem!!
Também gosto de Machado!! Adoro os contos e os livros realistas dele...
Memórias Póstumas e Dom Casmurro são imperdíveis!!
Posso deixar uma indicação? "Missa do Galo" é um conto ótimo! E foi reescrito posteriormente sob o ponto de vista de diversos autores!! Afinal, Machado deixou várias insinuações que rendem boas interpretações!!

Sobre Meus Livros disse...

Oi (:
Adorei o post. Nunca li nenhum livro do autor, mas com certeza deve valer a pena. Espero um dia poder ler ^^

Beijos.

Livros e Tsurus disse...

Machado de Assis é um dos meus autores nacionais favoritos. Gosto muito da sua narrativa e de seus personagens. Adoro o Bentinho de Dom Casmurro.


Beijos!
http://livrosetsurus.blogspot.com.br

Sammy disse...

Ficou incrivel a postagem, uma especial belissimo para esse talento que é o Machado de Assis, apesar de apenas ter lido uma obra dele, devo dizer que ele é o classico dos classicos, jamais me esqueci de toda a emoção que vivi com Dom Casmurro. Tenho minha opinião referente a essa questão da Capitu, mas apenas ele, com sua grandeza, seria capaz de responder, mas a beleza de suas obras é isso, deixar o leitor fazer sua compreensão!

Bjs

www.daimaginacaoescrita.com

Gisela Menicucci Bortoloso disse...

Eu gosto de ler livros clássicos, por isso já li vários livros de Machado de Assis. Também aconselho a leitura, vale a pena.
um abraço
Gisela - Ler para Divertir

D. Inocêncio disse...

Que bom que gostaram, meninas!!!
Espero que as próximas postagens agradem também!!

D. Inocêncio disse...

Ahh, Cynthia, eu era da UnB mesmo... e também acho que já vi a senhorita por lá!

Cármen Machado disse...

Olá, doces pessoas!
De fato, como está previsto nas boas-vindas, lá em cima, fiquei encantada. Como poderia, eu, fã incondicional do Bruxo do Cosme Velho, ignorar um blog no qual Machado de Assis é homenageado?
Espero uma visita de vocês lá no blog "Ideias de canário", criado por inspiração no Bruxo:
http://ideiasdecanario.blogspot.com.br/
bjokk,
Cármen.

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